LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A mãe gostaria de vê-lo de terno e gravata. A agência que cuida de sua carreira indicou uma camisa com a imagem de Ronaldo Fenômeno. Mas Endrick escolheu vestir uma polo e tênis brancos, calça azul-marinho, todos com listras verdes e vermelhas, em um visual retrô, da grife italiana Gucci.
As roupas, incluindo as duas malas que ele carregava, são avaliadas em pouco mais de R$ 50 mil. Dessa maneira o jovem de 17 anos se apresentou à seleção brasileira na Granja Comary, na última segunda-feira (13), após ter sido chamado para os jogos contra a Colômbia, nesta quinta-feira (16), e a Argentina, na próxima terça (21), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.
Assim que a imagem foi divulgada, rapidamente, torcedores nas redes sociais chamaram a atenção para a semelhança dos trajes com aqueles usados por Pelé em seus tempos de seleção.
O Rei do Futebol também foi lembrado no momento em que o técnico Fernando Diniz anunciou a primeira convocação de Endrick, fazendo dele o terceiro jogador mais jovem chamado ao time nacional, com 17 anos, 3 meses e 15 dias. Só Pelé e Edu chegaram antes à equipe, convocados com 16 anos.
O atacante do Palmeiras tomou o lugar do pódio que era de Ronaldo desde 1993, quando o Fenômeno tinha 17 anos, 8 meses e 29 dias.
Caso consiga marcar nos próximos três meses pela seleção, o jovem alcançará ainda uma rara combinação de feitos para um jogador com menos de 18 anos: títulos nacionais e internacionais no currículo, gols em finais e gols com a camisa amarelinha, algo que Neymar e Vinicius Junior não conseguiram. Ronaldo chegou perto. Pelé registrou todos esses feitos.
Cada comparação envolvendo o nome de Endrick só aumenta a expectativa para a sua possível estreia na equipe comandada por Fernando Diniz. O Brasil enfrenta a Colômbia às 21h desta quinta, em Barranquilla a TV Globo e o SporTV transmitem.
“É um jogador que tem potencial para ser um daqueles grandes talentos. A gente não sabe se vai se confirmar ou não. A convocação não é uma pressão, mas um prêmio e também uma visão de futuro do que esse garoto pode ser”, disse Diniz. “Ele vive o seu melhor momento jogando contra grandes equipes aqui do Brasil, conseguindo sobressair.”
Levou algum tempo para esse momento chegar, em temporada irregular. Endrick a começou como titular, mas não teve boas atuações no Campeonato Paulista e acabou sacado do time do Palmeiras, em meio a críticas de torcedores e da imprensa.
Iniciou o Campeonato Brasileiro em baixa, mas recuperou espaço na reta final da participação do Palmeiras na Copa Libertadores e no próprio Nacional. Com a lesão de Dudu, firmou-se na equipe e teve sua melhor atuação na grande virada sobre o Botafogo, por 4 a 3, marcando dois gols.
Sua convocação foi motivo de destaque em vários veículos de imprensa na Europa, sobretudo na Espanha. Tem sido assim desde a ascensão dele no Palmeiras, no passado, e só aumentou após ele ter sido negociado com o Real Madrid, em dezembro, por 72 milhões de euros (R$ 381 milhões).
Endrick chegará ao Real em julho de 2024, mas só poderá treinar com a equipe no final do mês, depois do dia 21, quando completar 18 anos.
Antes disso, cada passo fora de campo tem sido estrategicamente pensado por duas agências para valorizar a imagem do atleta antes de ele ser incorporado ao elenco madrileno.
A gestão dos contratos de patrocínios é feita pela agência Wolff Sports. A carreira do jogador é gerida pela Roc Nation Sports Brazil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo rapper Jay-Z, que também trabalha com jogadores como Vinicius Junior, Paquetá e Gabriel Martinelli.
Responsável pelos interesses comerciais do jogador, Fábio Wolff, sócio-fundador da Wolff Sports, afirmou que a convocação é o ápice da carreira do atleta até o momento. E que isso será fundamental para o plano de torná-lo um ídolo nacional.
“É um menino que é bem instruído, é bem-educado, nasceu para ser jogador de futebol. Não é um atleta de um clube, é um atleta de uma nação. É de quem gosta de futebol, de quem gosta de ver a carreira de um menino”, disse ele à Folha de S.Paulo.
De acordo com o profissional, a estratégia traçada para a construção da imagem do garoto é inspirada no trabalho que foi feito com três astros do esporte internacional: Cristiano Ronaldo, Roger Federer e Rafael Nadal.
“São atletas que foram construindo [suas carreiras] com muita estratégia e planejamento sob a perspectiva das marcas. Na maioria das parcerias, existe uma relação orgânica, uma relação de storytelling natural que faz com que a marca se identifique com o atleta.”
Por isso, o ideal, de acordo com Wolff, não é ter grande quantidade de marcas associadas ao atleta, mas um número restrito de empresas com as quais ele tenha de fato alguma identificação.
“Ao criar um número limitado de marcas, você gera um ícone natural para essas marcas. Porque, por exemplo, se o atleta tiver 30 marcas, por mais que tenha marcas legais, o mercado não vai conseguir se identificar com ele”, afirmou o profissional, que definiu um limite de oito parcerias para a jovem estrela.
ESCALAÇÕES
Além das ausências previamente confirmadas de Neymar, Casemiro e Danilo, todos lesionados, a seleção também será desfalcada nesta quinta-feira por Gabriel Jesus, que se recupera de problema muscular na coxa e deve ser preservado para a partida contra a Argentina.
Nesta terça-feira (14), o técnico Fernando Diniz indicou uma possível formação com: Alisson; Emerson Royal, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Renan Lodi; André e Bruno Guimarães; Raphinha, Rodrygo, Vinicius Junior e Gabriel Martinelli.
Do outro lado, os anfitriões devem ter Jhon Arias como desfalque, suspenso após ter recebido o segundo cartão amarelo.
Uma possível escalação do técnico Néstor Lorenzo tem: Vargas; Muñoz, Cuesta (Lucumí), Dávinson Sánchez e Machado; Mateus Uribe, Lerma e Castaño; Santos Borré, James Rodríguez e Luis Díaz.
Estádio: Metropolitano Roberto Meléndez, em Barranquilla (Colômbia)
Horário: Às 21h (de Brasília) desta quinta-feira (16)
Árbitro: Andrés Matonte (Uruguai)
VAR: Leodán González
Transmissão: Globo e SporTV