A palavra violência torna-se contraditória e até mesmo um ato inaceitável se associada ao ambiente educacional. Por isso, quando educação e agressão se cruzam em algum momento, é hora de acionar os órgãos responsáveis e tomar providências que evitem o agravamento da situação.
Contudo, não foi o que prevaleceu na tarde da última segunda-feira (11) em uma escola de Galileia. A Escola Municipal Waldira de Castro Martins foi cenário de um dos casos mais repercutidos nos últimos dias. Um casal entrou na escola e agrediu sete funcionários da instituição. A violência seria uma reação à briga que envolveu uma criança, que é parente da mulher, com outros colegas.
Início do caso
Ao ser informada de que o filho de 6 anos teria sido agredido, na quinta-feira (7), por pelo menos 10 crianças dentro da escola, a mãe, Beatriz da Cruz, relata que acionou o Conselho Tutelar. Em seguida, ela teria ido à Delegacia, onde registrou um boletim de ocorrência.
Ainda de acordo com Beatriz, no dia seguinte, a secretária municipal de Educação entrou em contato com ela e comunicou que seria realizada uma reunião, na escola, acerca do assunto.
Na data da reunião, Beatriz compareceu na escola acompanhada da irmã e do cunhado. Então, por razões ainda não informadas, o casal que acompanhava a mãe da criança agrediu as servidoras de forma violenta.
A mãe relembra o dia do acontecimento que motivou a reunião: “A única coisa que ele chegou relatando em casa foi dor no estômago e vômito. Ela [mãe de um colega] me explicou que uma criança bateu no estômago dele. Como teve a agressão e não fui comunicada, eu achei melhor acionar o Conselho Tutelar. Do Conselho Tutelar, me disseram para eu ir à Delegacia”, conta.
No entanto, Edna Gonçalves, que é diretora da escola, ressalta que o caso já estava sendo resolvido. Ela afirma que o Conselho Tutelar foi acionado, porém não compareceu, e logo depois marcou uma reunião com os pais das crianças envolvidas na briga. “Isso nunca aconteceu na escola. Somos uma escola de bem, nós não merecemos ser agredidos”, defende a diretora.
Em nota, o Conselho Tutelar afirmou que, ao ser acionado pela mãe da criança, registrou a denúncia e tomou as devidas providências.
“O triste episódio demonstra que abre aspas estamos distantes de uma sociedade justa, fraterna e solidária que preza pelo total cuidado e proteção às crianças e adolescentes. Diante dos fatos, resta necessário um esclarecimento: não nos responsabilizamos pelos atos das pessoas envolvidas. Elas devem procurar as vias legais. Igualmente afirmamos que repudiamos veementemente as agressões em desfavor as profissionais da educação. O Conselho Tutelar de Galileia informa que, depois de ser acionado por uma mãe a respeito de uma suposta agressão contra o filho, registrou a denúncia e tomou as providências devidas, de acordo com o artigo 136 da lei oito mil e 69 de 1990. Na segunda-feira, dia 11 de abril, um conselheiro foi até a escola a convite da diretora. Ao apresentar a questão à diretora, foi acordado que ela iria conversar com os alunos, e hoje o conselheiro voltaria para ver as imagens das câmeras, para averiguar se de fato ocorreram as agressões. Ressaltamos que as decisões do conselho tutelar são tomadas em colegiado. Diante disso, repudiamos as falsas acusações que um servidor municipal de Galileia levantou sobre esse conselho, na data de 13 de abril de 2022, alegando negligência frente às agressões aos profissionais da educação”.
O casal que agrediu as servidoras continua preso.
Escola e família
A psicopedagoga Carol Faria explica que a formação da criança depende de uma boa mediação entre o ambiente educacional e o familiar. “Eu sempre falo da parceria entre a escola e a família. Então, a escola tem que ser reforçadora, a família tem que ser reforçadora, para que não aconteça só na escola, mas em todos os ambientes. É uma questão que tem que ser generalizada. Não à violência”, declara.
Mediadores
Sobretudo, Carol Faria reforça que há formas de evitar problemas como o que aconteceu na escola de Galileia. Para isso, a psicopedagoga afirma que, como a criança ainda não compreende a gravidade da violência, é importante que os adultos (na escola e na família) sejam mediadores dos conflitos. “Tem que internalizar essas situações. E por que estão acontecendo essas brigas? Quais são os problemas que antecederam essas brigas? Então temos que fazer uma conscientização dessas crianças. Trabalhar esse diálogo com as crianças”, pontua a psicopedagoga.
Além disso, a profissional relata que casos de crianças com comportamento irregular têm se tornado ainda mais frequentes após o início da pandemia. Segundo Carol Faria, no retorno das aulas presenciais, muitas crianças estão com “baixa tolerância à frustração”. Ela afirma que alguns comportamentos devem ser corrigidos desde a infância, para que se evite a criação de adultos violentos: “Não aceita perder, vai ser um adulto violento. Então isso tem que ser trabalhado agora, na educação infantil escolar dessa criança”.
Por fim, Carol Faria ressalta como os adultos responsáveis pela educação, ensino e segurança das crianças podem agir no combate à violência dentro e fora da escola.
“A criança aprende muito pela imitação. Então, se eu vejo meus pais brigando, vou achar que aquilo é natural e vou brigar também. Assim, a primeira dica é evitar, porque a criança vai imitar. Segundo é conscientizar, estar atento a esses sinais de barreiras comportamentais da criança. Por mais que sejamos pais, nós temos que estar atentos a isso. ‘Minha criança está com baixa tolerância, é uma criança que tem falado muito alto, não tem aceitado um não’. Tudo isso a gente tem que olhar em casa e ter essa parceria com a escola. Porque a escola não está dentro do ambiente familiar, mas a família pode passar isso para a escola”, conclui.
O profissional de psicopedagogia atua no processo de desenvolvimento intelectual de crianças, adolescentes e adultos. É o responsável por analisar e, caso necessário, interferir em melhorias para aprendizagem e convívio dos envolvidos no ambiente educacional.