SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – O fim da segunda passagem do técnico Cuca pelo Atlético Mineiro não deixou rusgas ou mágoas entre as partes. A declaração é do empresário Rubens Menin, 65, principal apoiador financeiro do clube. Menin encabeça no Galo o grupo que ficou conhecido como “4 Rs”, nome dado pela letra inicial dos quatro empresários responsáveis pela maior parte dos investimentos nos últimos dois anos: Renato Salvador, da Materdei, Ricardo Guimarães, Banco BMG, além de Rafael Menin e Rubens Menin, ambos da MRV.
“Tudo foi feito de forma muito profissional por ele, não há mágoas entre Cuca e Atlético Mineiro. A possibilidade dele não continuar era antiga, já vem de mais ou menos três meses”, disse à Folha.
A informação sobre a saída do treinador que comandou o Atlético Mineiro em 2021 nas conquistas do Campeonato Mineiro, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil ocorreu de forma surpreendente e viralizou nas redes sociais durante a madrugada de ontem (28). O treinador de 58 anos disse à diretoria da equipe mineira, em reunião virtual no final da noite de segunda-feira (27), estar com problemas familiares.
“Ele se sentou conosco, tem muito respeito por nós. Também respeitamos muito o Cuca. Ele tinha contrato por mais um ano, mas pediu para sair e acatamos. A reunião ocorreu ontem, por volta das 17h. O Cuca já tinha nos falado que estava com problemas e sobre essa possibilidade. Não nos surpreendeu. Prefiro não externar quais são os problemas para preservá-lo”, afirmou o empresário.
Segundo Menin, ainda não há um direcionamento sobre o possível substituto. Os nomes serão indicados, principalmente, pelo diretor de futebol Rodrigo Caetano. “Não vamos colocar qualquer treinador com um elenco como este. O novo nome será definido diretamente pelo departamento de futebol”, explicou.
Nos bastidores, Menin era visto como um dos principais entusiastas do treinador. Em meio ao momento de maior pressão, bancou publicamente a permanência dele em entrevista ao site Superesportes, alegando que jamais cogitou a contratação de Renato Gaúcho.
“Vou falar como torcedor: eu nunca quis o Renato Gaúcho, sempre quis o Cuca. A partir do momento da saída do Sampaoli, o Cuca, para mim, era o que tinha de melhor. E continuo achando isso. Julgar um treinador por duas, três semanas de trabalho, é brincadeira. O problema do futebol brasileiro é que a torcida cobra, o clube cede e demite o treinador”, explicou à época.
Antes do ápice vivido na carreira como técnico e da nova lua de mel com a torcida, Cuca precisou vencer uma onda de rejeição para assumir o Atlético Mineiro nesta temporada. Quando cotado, boa parte das menções ao seu nome nas redes sociais eram de rejeição. Encabeçada por uma mobilização de torcedores do galo, a hashtag “CucaNão” se transformou em termo viral na ocasião.
Um caso policial de 1987, enquanto jogador do Grêmio, em uma excursão do clube gaúcho em Berna, na Suíça, quando ele e três companheiros de time – Eduardo Hamester, Fernando Castoldi e Henrique Etges – foram detidos e condenados por violência sexual a uma menor de 13 anos, reverberava com força, principalmente em coletivos feministas da torcida atleticana.
Cuca precisou vir a público para jurar inocência ao lado da família. O clube mineiro, por sua vez, tratou o assunto como “superado”, dizendo acreditar na palavra do treinador. Era intragável ainda para parte dos atleticanos o último ato na passagem anterior, quando aceitou a proposta do Shandong Luneng, da China, às vésperas do Mundial de Clubes. Ele ainda comandou a equipe na competição e saiu como vilão pela surpreendente derrota para o marroquino Raja Casablanca. Pichações de “fora, Cuca”, apenas sete jogos após a estreia, surgiram nos tapumes da obra do novo estádio do clube.
Em entrevista à Folha em 14 de dezembro, questionado sobre a continuidade no Atlético Mineiro e na carreira, ele não cravou a permanência: “vamos ver até onde vou”. Com a sua saída, o técnico português Jorge Jesus, demitido do Benfica, surge como um dos principais candidatos a sucessor.