A expressão cultural que colore ruas de todo o mundo ganha cada vez mais espaço em Governador Valadares, desta vez no alto do bairro Carapina, cartão-postal da cidade. Um grupo de artistas lançou o projeto: “O Beco, Grafitti na Quebrada”. Nos dias 13 e 15 de fevereiro vários artistas se reuniram e deram o pontapé inicial no projeto. O local escolhido foi o Beco Oros, próximo à caixa d´água, que chamou a atenção de moradores e curiosos que passavam pelo local. A intenção é dar continuidade nas pinturas.
Nos muros do Beco Oros se espalham vários estilos de arte ao ar livre. Os grafiteiros usaram sprays, pincéis e tintas reproduzindo ideias, letras, desenhos e formas, alimentando uma arte que cresce e surpreende o público não somente pela maneira autêntica, mas também pela forma como ressignifica as áreas consideradas de vulnerabilidade social.
O idealizador do projeto é o artista valadarense Pedro Henrique, que afirmou que o projeto apenas começou. “Quando pensei em fazer esse projeto a ideia não era apenas colorir o espaço. Era abrir portas e criar diálogo com a comunidade. A ideia é a partir daquele momento a gente consiga chegar a outros espaços e tentar trabalho, até mesmo a região mais baixa e as vielas. Toda comunidade respira arte, só que muitas vezes essa informação não chega até as pessoas. Não sou eu como artista que faço sozinho e vou embora, a comunidade interage junto e até ajuda a fazer os painéis. O mais interessante é que a gente pode levar outro tipo de linguagem para dentro da comunidade, eles acabam dando retorno positivo e querem mais”, explicou o grafiteiro.
Manifestação cultural vista nas ruas
O grafite é uma das principais formas de manifestação da arte urbana. Acredita-se que esse tipo de arte exista desde o Império Romano, mas no Brasil esse movimento se popularizou nos anos 70. A arte pode estar ligada a vários movimentos diferentes, mas em especial, está relacionada com o Hip-Hop.
Quebrar preconceitos e dar mais valorização à arte urbana
A arte não tem limites. Mas Pedro Henrique acredita que o grafite ainda esbarra em um problema estrutural: o preconceito. “Nossa ideia é quebrar esse estigma de violência e criminalidade. Pessoas que não moram aqui logo pensam nisso. Criam um preconceito e acabam não conhecendo a comunidade. Através da nossa arte queremos quebrar isso, que está enraizado há tantos anos. Conheço o Carapina e o elo que a galera criou com os artistas abriu portas para divulgar ainda mais a arte”, explicou.
Veja o que diz o grafiteiro sobe a importância do projeto:
“Quando você pensa na palavra “beco”, a pessoa logo imagina um lugar marginalizado, esquecido. Normalmente as pessoas só conseguem pensar nisso. Mas eu sei que a comunidade não pensa assim. Portanto a ferramenta que a gente encontrou para dar voz e dizer a verdade é a arte.”
Pedro Henrique
Quem apoiou o projeto dos grafiteiros foi a Associação de Moradores dos bairros Carapina e Nossa Senhora das Graças. Para o presidente da associação, Walgleis Gomes Barbosa, o grafite deu uma “nova cara” ao bairro. “A comunidade abraçou a causa e viu a necessidade de estar realizando oficinas em outras áreas. Já falei com eles que tem total apoio para dar continuidade tanto na parte baixa quanto a parte alta do Carapina, comunidade tão carente e hostilizada por alguns que não conhecem a história da comunidade”, disse.
Barbosa afirma que não haveria local melhor para realizar o projeto, que não fosse o Carapina. A proposta é levar em breve os painéis para ruas que dão acesso ao bairro, como a Tupinambás. “Carapina para nós é tudo. Nasci e fui criado aqui. Somos uma família de 13 filhos, que foram criados aqui. Esse bairro serve de referência para todos nós. Estamos no coração da cidade. A escolha foi certa”, concluiu.