Com panelaços, brasileiros criticam falta de vacina e oxigênio, e pedem impeachment de Bolsonaro

Em dia de derrotas na tentativa de receber vacinas contra a Covid-19 e de mais relatos de pacientes morrendo sem oxigênio em Manaus, o governo de Jair Bolsonaro virou alvo de mais um panelaço em várias cidades brasileiras nesta sexta-feira (15).

Com gritos de “fora, Bolsonaro” e “assassino”, brasileiros criticam a demora para o início da imunização e de envio de mais insumos para evitar o colapso do sistema de saúde amazonense. Manifestantes também pedem o impeachment do presidente.

Em São Paulo, as panelas foram ouvidas em bairros do centro como Consolação, Santa Cecília, Barra Funda e Bela Vista, da zona oeste como Pinheiros e Jardins, da zona norte como Santana e Casa Verde e da saúde Sul, na Saúde e Vila Mariana e em Anália Franco, na zona leste. O panelaço começou por volta das 20h, antes do horário divulgado para o início da manifestação nas redes sociais, 20h30.

Outras cidades também registraram protestos, como Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Florianópolis e Brasília.

Vacina contra Covid-19

O governo Bolsonaro vem acumulando derrotas na tentativa de começar a imunização do país. Nenhuma das duas vacinas esperadas para o início da campanha nacional foram entregues ao Ministério da Saúde até agora.

Uma delas viria da Índia para o Brasil e tinha previsão de chegar neste sábado (16), mas, nesta sexta, o governo da Índia negou a entrega imediata do lote de dois milhões de doses do imunizantes da AstraZeneca/Oxford, o que frustrou uma operação montada para buscar o material no país asiático.

Com o veto da Índia, o presidente Bolsonaro corre o risco de assistir ao início da vacinação no Brasil com a Coronavac, que tem sido utilizada como trunfo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

A pasta da Saúde deu um ultimato ao Instituto Butantan pedindo que fossem entregues os 6 milhões de doses da Coronavac, mas o órgão respondeu que não vai enviar o imunizante ao governo federal porque não há um plano para distribuí-las entre os estados.

O ministério passou o segundo semestre ignorando a oferta de incorporação da Coronavac ao calendário nacional. Mas, depois de idas e vindas, a pasta aceitou o imunizante no programa nacional. Antes previa várias outras vacinas ainda não existentes no país.

Pedido de impeachment

Partidos de oposição decidiram nesta sexta-feira (15) apresentar um novo pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por causa do colapso da saúde em Manaus (AM), que sofre com falta de oxigênio em hospitais em meio à alta de internações por coronavírus.

Em nota, as siglas informaram que a decisão ocorreu “considerando a prática de crimes de responsabilidade em série, que resultaram na dor asfixiante do Amazonas e de milhares de famílias brasileiras”. O texto é assinado por Rede, PSB, PT, PC do B e PDT.

“O presidente da República deve ser política e criminalmente responsabilizado por deixar sem oxigênio o Amazonas, por sabotar pesquisas e campanhas de vacinação, por desincentivar o uso de máscaras e incentivar o uso de medicamentos ineficazes, por difundir desinformação, além de violar o pacto constitucional entre União, estados e municípios”, diz o documento.

Os partidos pregam que o Congresso Nacional reaja a Bolsonaro “representando a nação”.

Assinada pelos líderes na Câmara e pelos presidentes das siglas, a nota também prega a volta dos trabalhos do Legislativo “imediatamente” – os parlamentares estão em recesso – para discutir medidas que possam minimizar a crise vivida por Manaus. As atividades do Parlamento só retornam em 1º de fevereiro.

A capital do Amazonas vive um cenário de recorde de hospitalizações por Covid-19 e falta de oxigênio nos hospitais. O insumo faltou em diversos hospitais da rede pública na quinta (14), resultando na morte de pacientes por falta de oxigenação, segundo relato de médicos.

Rodrigo Maia

Ainda nesta sexta o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que será inevitável discutir um pedido de impeachment contra Bolsonaro “no futuro”.

“Eu acho que esse tema de forma inevitável será discutido pela Casa no futuro. Temos de focar no principal, que agora é salvar o maior número de vidas, mesmo sabendo que há uma desorganização e uma falta de comando por parte do ministério da Saúde”, disse o deputado, em coletiva no Palácio dos Bandeirantes ao lado do governador João Doria (PSDB).

O presidente da Câmara recebeu mais de 50 pedidos de impeachment, mas não deu seguimento a nenhum deles sob o argumento de que isso traria mais instabilidade ao país.

Maia também defendeu que o Congresso volte a trabalhar na semana que vem e enviou um ofício ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para que convoque o Parlamento.

O próprio Alcolumbre, porém, resiste a essa hipótese. Além dele, integrantes dos partidos do centrão que apoiam a candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Casa são contra a ideia de retomar as atividades do Legislativo.

Aliados de Lira avaliam que Maia quer o retorno dos trabalhos no Congresso para retomar seu protagonismo no Congresso em busca de atrair votos para o candidato que apoia, Baleia Rossi (MDB-SP).

O emedebista já se posicionou a favor de que o Congresso volte às atividades enquanto Lira defende o contrário. (Thaiza Pauluze e Julia Chaib/Folhapress)

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