Para o presidente do Sinepe/NE-MG, Samuel Lara de Araújo, a suspensão das atividades escolares pode acontecer com outras instituições de ensino infantil
EDUCAÇÃO – As escolas particulares de Governador Valadares estão passando por um momento delicado neste período de pandemia do coronavírus. Com a suspensão das aulas presenciais em março, algumas instituições fecharam as portas e não vão retornar em 2021, outras correm o mesmo risco, enquanto outras ainda tentam manter a folha de pagamento dos professores. Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro – Sinepe/NE-MG, o cenário pode piorar ainda mais nas instituições de ensino infantil.
O caso mais recente de fechamento de escola particular em Valadares aconteceu nesta segunda-feira (21). Atuando há mais de 55 anos na educação infantil e no ensino fundamental, o Espaço Educacional Vieira Cabral anunciou que terá suas atividades escolares suspensas em 2021.
Conforme a direção da instituição, a suspensão das atividades é decorrente dos impactos da pandemia da Covid-19, que causaram cancelamento de contratos, perda de alunos, renegociação de mensalidades, número excessivo de descontos e alta inadimplência.
Nesta quarta-feira (23), outra escola particular decidiu suspender as atividades. O Instituto Educacional Construindo o Saber, após 15 anos de atuação, decidiu cancelar as atividades para 2021. O comunicado foi feito pela diretora da instituição, Valquíria Cristina de Souza. Veja o comunicado:
Presidente do Sindicato lamenta a situação
Em entrevista ao DRD, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro – Sinepe/NE-MG, Samuel Lara de Araújo, lamentou o fechamento da Escola Vieira Cabral e criticou a postura do poder público com as instituições de ensino básico do estado durante a pandemia. “Lamentavelmente, o Vieira Cabral, com mais de meio século de existência e de educação de qualidade, foi frontalmente golpeado pelos nefastos efeitos da pandemia de Covid-19 no setor educacional. Lutou bravamente e enfrentou, com sobriedade, o desafiador ano de 2020 para a educação. Mas, diante do futuro incerto e da incompreensível desatenção do poder público com as escolas de livre iniciativa, em especial àquelas que se dedicam à educação infantil e às séries iniciais do ensino fundamental, o Vieira Cabral se despede, deixando um vazio inestimável na educação do município de Governador Valadares, do estado e do país”, disse.
“Neste momento, deve ser destacado o importante papel da Tia Ignez (ou Profª. Inez, ou, simplesmente, D. Ignez), fundadora do Vieira Cabral, para o segmento educacional. A saudosa professora Ignez é referência, por todas as suas ações em defesa da educação, e sempre se dedicou à nobre missão de educar. O legado do Vieira Cabral está gravado para sempre em todos aqueles que lá aprenderam a ler as primeiras palavras e a escrever e traçar seu próprio caminho.”
Presidente do Sinepe/NE-MG/ Samuel Lara de Araújo.
Escolas particulares ligaram o sinal de alerta
Nas regiões Leste e Nordeste de Minas, conforme o Sinepe, são quase 700 instituições de ensino particular. De acordo com o presidente do sindicato, o que aconteceu com o Vieira Cabral vai se repetir com outras escolas particulares do município. “Importante ressaltar que o que ocorreu com o Vieira Cabral não é novidade. Essa situação está atingindo a nossa cidade e o estado inteiro. Hoje já recebi a informação de que outra instituição encerrou as atividades em Valadares. Em Belo Horizonte, o Colégio Metodista Izabela Hendrix, um dos mais tradicionais do estado, com mais de 100 anos, também fechou as portas. No Rio de Janeiro (RJ), cerca de 4 mil escolas não continuarão em 2021. O segmento mais sacrificado neste momento é o das escolas de ensino infantil. Essas estão fadadas a pagar um preço maior com a pandemia. As escolas que vão do infantil ao ensino médio estão conseguindo se manter até agora”, explicou.
O maior motivo de encerramentos das atividades nas instituições de ensino particular, sem dúvida, está relacionado aos impactos causados pela Covid-19. Algumas instituições até conseguiram manter a folha de pagamento, mas não suportaram os gastos com equipamentos de tecnologia durante as aulas remotas.
Em Valadares, o cenários são distintos. Com mais de nove meses de pandemia, pais dos alunos estão pedindo cancelamento das matrícula e alguns estão tentando renegociar os valores. Sem condição de manter o pagamento das matrículas, outros pais decidiram transferir os filhos para escolas públicas para o ano que vem.
“Quando apareceu a pandemia, tinha-se uma expectativa de que iria durar no máximo uns três meses. Não era minha particularmente. Mas tinha essa expectativa da população. Mas não aconteceu. O impacto está sendo agora. Tivemos o empenho muito grande para exercer as atividades. As escolas investiram bastante, os professores foram verdadeiros heróis neste tempo de pandemia e as escolas tiveram um custo muito elevado, porque tiveram investimentos em equipamentos de tecnologia, em plataformas que permitissem fazer o atendimento remoto. Isso trouxe dificuldade para as escolas”, ressaltou Samuel Lara.
Como será em 2021?
Samuel também falou sobre o calendário nas escolas particulares em 2021. “Nós temos obrigatoriamente que cumprir 200 dias letivos. Houve uma pequena alteração, mas não reduziu a carga de 800 horas. Portanto, as escolas estão fazendo o calendário para retornar com as aulas em fevereiro de 2021”, afirma.
O retorno presencial de alunos e professores às salas de aula, porém, ainda é uma incógnita. “O retorno presencial não podemos nem agendar data. Existe um plano de vacinação, que certamente não acontecerá em massa antes do primeiro semestre de 2022. Com o aumento de infectados, nós podemos ter aí uma nova prorrogação. E essa falta de sintonia entre os poderes executivos dos estados e municípios dificulta ainda mais as decisões, que têm sido judicializadas e bastante complexas no meu entendimento”, comentou o presidente do Sindicato.