Em Governador Valadares, o diretor do Sind-UTE repudiou os comentários dos jornalistas, afirmou que as falas são desprovidas de conhecimento prévio e são um ataque ao serviço público, aos direitos dos servidores e dos trabalhadores em geral
Um comentário feito pelo jornalista Cláudio Humberto, do grupo Bandeirantes de Comunicação, em um programa da Band News FM – Brasília, gerou descontentamento entre educadores. No programa ancorado pelo chefe de jornalismo da emissora, Rodrigo Orengo, os jornalistas criticam por sete minutos os professores, devido ao recesso escolar que aconteceu esta semana. Os comentários foram ao ar na segunda-feira (14) e deixaram os profissionais da rede pública de ensino do Distrito Federal decepcionados.
O assunto repercutiu em todo o país. Em Minas Gerais, o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG) chegou a soltar uma nota de repúdio aos jornalistas. Rafael Toledo, diretor do Sind-UTE em Valadares, mostrou-se decepcionado com a fala dos jornalistas e chegou a citar o projeto do vereador Coronel Wagner, sobre o Programa Escola sem Partido, sendo uma ideologia que pretende implantar a “Lei da Mordaça”, que fere a liberdade de cátedra prevista na Constituição Federal.
O assunto também foi levantado no programa da jornalista Thalyta de Almeida, que reproduziu uma mensagem de um ouvinte da rádio dizendo que o trânsito estava mais leve, mas que em compensação os alunos ficariam uma semana sem aula. A repórter explicou que os estudantes estavam dispensados devido à “Semana do Saco Cheio” e, por se tratar de um recesso programado, os discentes não ficariam prejudicados.
O que era para ser uma semana de descanso e de comemorações acabou se transformando em um pesadelo para os profissionais da classe. Foram aproximadamente sete minutos de duras críticas à categoria, por “enforcar” uma semana inteira de aula. O chefe de jornalismo, Rodrigo Orengo, leu um aviso encaminhado aos pais pela Escola Classe 08 de Taguatinga, informando que não haveria aula em função do recesso, de 14 a 16 de outubro, e que as datas 17 e 18 estavam descritas como dias letivos móveis. “E eu realmente não sei o que é o dia letivo móvel”, afirmou o apresentador, ao tentar explicar o calendário escolar da secretaria. Em seguida, Cláudio Humberto disparou. “Meu Deus do céu! O país quebrado, falido, precisando trabalhar ainda mais para sair do buraco em que estamos em razão de privilégios e regalias como essa, malandragens como essa. Uma das razões fundamentais dos 12 milhões de desempregados no país é exatamente o peso que representa o setor público brasileiro. Isso é escandaloso, é caso de polícia. O Ministério Público tem que processar”.
Em outro momento, o jornalista chega a dizer que os professores são muito bem pagos, rigorosamente em dia, e “não têm compromisso com a própria profissão. Eles agora criaram essa coisa cínica chamada dia letivo móvel, e ninguém vai preso nem tem o dia descontado”.
Sind-UTE/GV reage
Em Valadares, o diretor do Sind-UTE /GV, Rafael Toledo, explica que há recesso todos os anos nas redes pública e privada, na Semana das Crianças. Algumas exceções ocorrem nos períodos em que a categoria reage aos ataques e desrespeito dos governos, em que são realizadas greves e paralisações, e a semana acaba sendo destinada a reposições.
“Trabalho para o Estado de Minas Gerais desde 1993. Para escolas particulares, já trabalhei em pelo menos cinco instituições, em Valadares. Em relação às falas dos jornalistas, elas são desprovidas de conhecimento prévio e com indicativos da corrente ideológica que se caracteriza pelo ataque ao serviço público, aos direitos dos servidores públicos e dos trabalhadores em geral, com profunda relação à crença em situações esdrúxulas, no descaso com a ciência, com a corrupção cínica explícita pela busca do nepotismo desmedido, com os privilégios aos amigos do ‘rei’, com a defesa das milícias paramilitares, o ataque à Amazônia e a seus povos, a linguagem de baixo calão que expressa opiniões toscas todos os dias nos meios de comunicação. Há uma infinidade de fatos que instigam radialistas a apresentarem as avaliações que tanto repercutiram. Em Governador Valadares, essa ideologia pretende implantar a ‘Lei da Mordaça’, através de Projeto de Lei apresentado na Câmara Municipal, por um de nossos nobres edis, o que fere a liberdade de cátedra prevista na Constituição Federal”, afirma Toledo.
Nota de Repúdio do Sind-UTE/MG
O Sind-UTE/MG repudia o áudio em que o jornalista Cláudio Humberto, da Band News DF, critica a semana de outubro, direito dos docentes e estudantes como um recesso previsto no calendário, que permite o descanso a toda a comunidade escolar. Ressaltamos que esta semana é prevista e regulamentada por lei de cada ente federado, estados, municípios e União, e obedece à Lei 9394/96, Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDB).
Cumprimos os 200 dias letivos, previstos legalmente tanto nas escolas públicas como privadas, e enfrentamos as mais adversas condições todos os dias. Grande parte da categoria trabalha em mais de um turno para conseguir sobreviver. O exercício da profissão exige estudos constantes, planejamento de aulas, sempre com o objetivo de oferecer o melhor aos estudantes, ainda que a carga horária se estenda para dentro de casa.
Não há de se falar em regalias ou privilégios a quem acolhe, sobretudo, aos filhos e filhas da classe trabalhadora e suas múltiplas histórias de desafios e lutas, muitas vezes, permeada de carências, sofrimento e dor. Não bastasse a desvalorização nos salários e condições materiais adversas nas escolas, quem não entende de educação quer fazer crer que os educadores são os responsáveis pelo desenvolvimento pleno da área. Mais uma vez, somos alvo de ataques banais e sem qualquer reflexão sobre o baixo investimento.
Em Minas Gerais, por exemplo, o Sind-UTE/MG está na luta pelo pagamento do Piso Salarial Profissional há mais de 10 anos, um direito respaldado na Constituição Federal, na Lei estadual 21.710/2015 e na Legislação Estadual. Além disso, o governo do estado descumpre o investimento mínimo constitucional de 25% da arrecadação, e 60% da categoria segue com vínculo precário de trabalho.
Por todas essas razões, repudiamos as estapafúrdias afirmações desse que sequer merece o título de jornalista, por não ser capaz de fazer uma ligeira investigação dos fatos antes de se pronunciar sobre o que não conhece. Saudamos nossas categorias de educadores, essenciais para a emancipação da classe trabalhadora.”
por Angélica Lauriano | angelica.lauriano@drd.com.br