Colonizado posteriormente em relação a países de clima temperado, o Brasil teve que se adaptar a costumes vindos dos países que o colonizaram. Muitos desses costumes e técnicas funcionaram bem lá. Aqui, porém, com o solo, isso não aconteceu totalmente. A condição tropical de nosso país demanda outro tipo de manejo.
Para entendermos melhor o solo tropical, podemos listar alguns fatores que lhe são característicos: são solos profundos e bastante intemperizados, com baixa capacidade de retenção de cátions, pobres em sílica e ricos em ferro e alumínio (na forma de óxidos).
Nossos solos têm maior capacidade de fixar fósforo e trocar ânions (como fósforo, nitrato, sulfato, entre outros, que são nutrientes). Estão mais suscetíveis à erosão, pois em algumas estações enfrentamos chuvas intensas, ou seja, grandes volumes de água em pouco tempo.
Antes de julgarmos um solo como pobre ou rico, é necessário realizar um diagnóstico. Contudo, é possível ter uma ideia da vegetação que ocupa esse solo. O único erro que não devemos cometer é classificar um solo como pobre apenas por sua cor ou estrutura (como no caso dos arenosos), pois existem solos argilosos e mais escuros com características químicas, físicas e biológicas inferiores aos solos arenosos — inclusive em áreas agrícolas produtoras de grãos, nas quais comumente se diz que os solos são férteis. Tudo é uma questão de manejo.
Quando há necessidade de produção de pastagens de qualidade, é essencial que o solo esteja em boas condições, pois a qualidade do capim, a produtividade e a facilidade no manejo dependem disso. O solo, como fornecedor de nutrientes, promove o crescimento vegetal por meio da absorção desses elementos, que são essenciais ao desenvolvimento das plantas, à produção de açúcares e celulose, os quais servirão como fontes de energia e fibras para a alimentação animal. Além disso, o componente mineral das plantas atua na nutrição animal de forma balanceada e eficiente, evitando carências nutricionais e diminuindo a necessidade e o custo da suplementação do rebanho.
Mantendo sempre o solo com qualidade nutricional adequada, as plantas são mais beneficiadas, prolongando sua vida útil. Ao se falar em degradação de pastagens, que pode ocorrer por diversos fatores, podemos listar alguns benefícios do bom manejo: maior velocidade de rebrota do capim, maior emissão de raízes e perfilhos (dependendo da espécie), além de melhor capacidade de competição da espécie de interesse com plantas daninhas. Esses fatores combinados podem multiplicar a vida útil da pastagem. Dependendo da situação, pode-se triplicar o tempo necessário para uma eventual reforma da pastagem, e, muitas vezes, recuperar seu vigor inicial apenas com práticas de recuperação, que são mais baratas e rápidas do que a reforma completa.
Em pastagens produtivas, obtém-se maior quantidade de matéria seca por unidade de área, o que reduz o deslocamento dos animais, economizando sua energia e promovendo menor compactação e maior cobertura do solo — fatores que retardam ou evitam a degradação. Além disso, a uniformidade na altura e na idade das plantas aumenta a digestibilidade, facilita o manejo de entrada e saída dos animais e pode elevar o rendimento da forrageira, permitindo maior lotação na pastagem. É comum dobrar — ou até ultrapassar esse índice — a produtividade quando o solo e a pastagem são recuperados adequadamente, o que dilui custos e proporciona maior saúde animal e vegetal.
Basicamente, solos melhores produzem plantas nutricionalmente superiores para os animais, mais eficientes na conservação do solo e com maior vida útil para a pastagem. Além disso, colaboram com o meio ambiente ao contribuírem para a manutenção do carbono no solo, alimentando um ciclo de maior eficiência agronômica na produção de massa seca por hectare.
(*) Marcelo de Aquino Brito Lima
Engenheiro-agrônomo; fiscal estadual agropecuário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA); presidente da Associação dos Profissionais de Engenharia e Agronomia de Governador Valadares (ASPEA-GV); professor universitário; especialista em solos e nutrição de plantas e em geografia, meio ambiente e sustentabilidade.
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