[the_ad id="288653"]

O Calçadão

FOTO: Jack Zalcman/Arquivo-DRD

Crisolino Filho (*)

Não é objetivo aqui neste artigo avaliar administrações, porque como o Brasil funciona já é do conhecimento geral. Independente da eficiência e da competência, em Governador Valadares existe um exemplo bem delineado de que boas ideias e projetos bem elaborados produzem bem-estar e qualidade de vida para o cidadão. Estamos falando do CALÇADÃO, na Ilha dos Araújos. Aquela obra foi elaborada com uma inspiração estética em que o desenho urbano lembra o que acontece nos países desenvolvidos.

Talvez seja esta uma das razões pelas quais a maioria dos “gringos” praticantes de voo livre, quando veem participar de campeonatos escolhem a Ilha temporariamente para viver. Existe ali alguma coisa semelhante aos seus países de origem. É um espaço demasiadamente simples e democrático, contornado pelo rio, jardins, árvores, pássaros, flores, cantinhos bucólicos onde a grama se mistura à madeira e muito mais.

Como uma espécie de reserva ambiental, durante todas as estações do ano, é comum ver nas tardes e manhãs dezenas de pequenos saguis, pássaros de variadas espécies, lagartos, insetos e outros que produzem um belo espetáculo. Coisa para agradecer a Deus.

Laboratório de Psicologia

Quando se anda pelo Calçadão tem-se a impressão de que ficou para trás em outra cidade as esquinas cheias de panfletos jogados ao chão, carros de som com seus altíssimos decibéis e outros contrastes sociais de maior gravame. Naquele cenário correm ou fazem caminhadas esportistas, homens, mulheres, crianças, adolescentes, a melhor idade. E, claro, muitos deles com seus “totós”. Uns andam solitariamente, outros em dupla ou em grupo, de forma que todos se contemporizam. Numa espécie de manifestação do inconsciente coletivo.

É como se todos repetissem em voz uníssona: “Como nos sentimos bem aqui”.

Percebe-se entre uma conversa e outra dos usuários, as quais nunca vai se saber o desfecho final, que aquilo ali é quase um laboratório de Psicologia, onde alguns se dispõem a desabafar, pedir opiniões, rir, brincar, falar das relações, de amigos, do dia a dia, do trabalho e outros assuntos.

Manutenção constante

Mas aquela via inspiradora precisa de manutenção constante. Em alguns pontos deveriam ter mais luminárias; em outros, os cercados de ferro precisam ser restaurados. Mas sejamos justos: não podemos negar que a capina é feita periodicamente, mas a recuperação mais atual do piso de pedras portuguesas é uma agressão ao desenho do piso do calçadão. Em alguns pontos assenta-se somente a massa de cimento desfigurando sua arquitetura. Por isso e outras coisas mais, o Calçadão precisa de avanços.

Não podemos afirmar que o ajuste a ser feito é pequeno, mas também não é uma demanda “milionária”.

Então talvez a exigência é mais da vontade de fazer com criatividade. Muitos dos ilhéus, residentes e/ou comerciantes, contribuem com a manutenção do calçadão, cuidam de jardins que fizeram em frente a seus comércios ou em frente às suas belas casas ainda que feitos do outro lado da rua. Os cantinhos bucólicos cercados de plantas pingo de ouro, grama, cercadinhos e barquinhos de madeira são um charme.

Mãe natureza

Nos trechos onde se avista a Ibituruna e nos contornos onde o Calçadão passa entre árvores, sente-se a generosidade da mãe natureza. As barraquinhas de água de coco e academias em volta da orla sugerem saúde. As pizzarias e barzinhos em contato direto com o barulho do rio são relaxantes. O Calçadão é o maior ponto turístico urbano da cidade.

Além da Ilha, sobressai também com as mesmas características o calçadão do bairro São Pedro, hoje, um pouco descuidado. Espaços de lazer como estes deveriam ser mais valorizados pelas administrações públicas, e, na medida do possível, deveriam ter uma administração específica, direcionada só para eles.

É preciso sonhar. Apesar da situação e das constantes alegações de dificuldades financeiras, seria muito bom para a cidade se o poder público construísse também na orla do rio Doce, ali atrás do parque de Exposições, no bairro São Paulo, projeto semelhante.

Advogamos a ideia de que o Calçadão da Ilha deveria, em parceira com quem de direito, ter uma administração própria, pois sempre vai se ter uma lâmpada queimada, pedrinhas portuguesas soltas, mato para cortar, limpeza, pintura, etc. Se assim fosse, cuidaria das demandas contornando a burocracia. Já que a administração municipal tem muitas coisas para olhar. A cidade agradeceria muito. Afinal, lazer eleva a autoestima, reafirma a cidadania, os valores democráticos e contribui com o desenvolvimento.


(*) Crisolino Filho é escritor, advogado e bibliotecário | E-mail: crisffiadv@gmail.com  –  Whatsapp: (33) 98807-1877 | Escreve nesse espaço quinzenalmente

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

A era das contradições

🔊 Clique e ouça a notícia Wanderson R. Monteiro (*) Estamos vivendo em tempos difíceis, onde tudo parece mudar de uma hora para outra, nos tirando o chão e a

O antigo futebol de 11 contra 11

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) No futebol do passado, que encantava, situações delicadas e pitorescas ocorriam, algumas, inclusive, não republicanas, próprias do mundo dos humanos