por Arthur Arock (*)
Eu sei que isso tem uma grande chance de ser interpretado como amargo ou algo nesse tom, mas me arriscarei em dizer mesmo assim: Dia dos Namorados é uma data que me incomoda. Não pela ideia da data em si, mas por toda “mensagem” que ela traz e reforça.
Sim, eu não sou a pessoa mais indicada para falar do Dia dos Namorados, afinal, sou uma pessoa que evita namoros. Não que eu esteja dizendo que estar em um relacionamento é algo ruim e que deveria ser evitado, em absoluto. Acho que nós devemos tentar ao máximo nos manter em condição que nos faça felizes. Meu ponto aqui é que pessoas diferentes encontram felicidade de modos diferentes, em condições diferentes. Falando apenas sobre mim, apesar de já ter sido feliz em relacionamentos, eu sou feliz estando solteiro/sozinho. E sei que tem muitos como eu por aí. Sem falar que há também os muitos a quem essa solidão é imposta socialmente, pelos mais diversos fatores. Há ainda os que se veem em relações abusivas/tóxicas e que, por qualquer que seja o motivo, ainda não conseguiram escapar dessa situação. E (novamente falando só por mim, mas imagino que não seja o único que pensa assim) a mensagem que a sociedade passa (e reforça desesperadamente nessa época) é terrível: “Nada é mais importante que o amor”. A esmagadora maioria de filmes, livros, músicas etc. que existe por aí reforça de uma forma ou de outra a ideia de que não somos ninguém a não ser que estejamos em uma relação (de preferência dentro de todo um conjunto de regras preestabelecido há séculos). Esse seria o grande objetivo da vida: casar e se reproduzir. E se você não fizer isso, você está errado. Você não tem sentido até ser o sentido da vida de outra pessoa; sem isso, você é só a metade incompleta de uma laranja.
E eu sei que alguém leu essas frases como algo profundamente romântico, mesmo que eu esteja as destacando como uma ideia profundamente cruel.
E, sim, eu vim dizer isso na semana do Dia dos Namorados! Me processe! Eu, inclusive, escrevi algo mais “dentro do tema” que até pretendo saltar semana que vem, mas nesta semana eu quis passar exatamente essa mensagem: se você não está em uma relação (seja por escolha ou por imposição social) você não está errado ou incompleto ou qualquer coisa do tipo. Se for por imposição social, eu espero do fundo do coração que nós consigamos lutar contra essa situação para que você tenha o direito de fazer suas próprias escolhas, sejam elas quais forem. Se você está em uma relação que te faz infeliz, saiba que você pode sim sair dela. Não estou dizendo que essas coisas sejam simples ou fáceis, mas as pessoas têm que ter o direito de opção e não ser obrigadas a se curvar ao que uma pessoa/um conjunto de pessoas/a sociedade como um todo lhes impõe. Você não é definido por estar ou não com alguém. Você não tem obrigação nenhuma de ser o amor da vida de alguma pessoa, e (por mais piegas que seja) o ideal é que você consiga ser o amor da sua própria vida, independentemente se você está em uma relação com algum (seja ela de qualquer formato que deixe todos os envolvidos felizes) ou não.
Mas eu sei que não posso só fazer meu desabafo e parar por aí. Afinal, essa é uma coluna de cultura e não meu diário pessoal. Então, eu resolvi fazer uma lista de filmes onde não há romance (ou, pelo menos, o mínimo possível). Em quanto fazia essa lista, percebi cada vez mais como é uma tecla que Hollywood insiste em bater, mas acho que consegui uma lista até interessante ao fim e ao cabo.
Vamos começar pelo óbvio, principalmente para aqueles que querem fugir completamente da temática da data comemorativa. Se você quer evitar romance, há poucos filmes mais seguros que os de guerra. É claro que é um tema muito vasto, mas você pode optar ou pelos clássicos testados e aprovados pelo tempo (“Resgate do Soldado Ryan”, “Apocalipse Now”, “Nascido Para Matar”) ou ir para uma obra de arte moderna como “1917”. Esse filme se passa na Primeira Guerra Mundial (como é dedutível pelo ano) e te dá a real sensação que foi filmado em apenas uma impossivelmente longa e contínua tomada; é impressionante. Só para terminar de tirar do caminho as opções mais “sombrias”, vamos de terror e suspense. Esse é um gênero que não tenho tanto domínio, então, fico com os clássicos como “Alien – O Oitavo Passageiro”, Silêncio dos Inocentes”, “Tubarão”, “Psicose”. Nenhum romance, muito sangue. Se essa é sua preferência, esses são excelentes opções.
Mas talvez você queira algo mais leve, talvez você queira rir. Nesse caso, Monty Python é uma escolha certeira, seja “A Vida de Brian” ou “Em Busca do Cálice Sagrado”, filmes são tão bons e clássicos que eu (espero) nem preciso defender o porque você deveria ver (afinal, a essa altura do campeonato, você já devia ter visto mesmo que fosse pra não gostar). Isso sem contar umas das melhores sátiras/comédias de ação de todo os tempos, “Chumbo Grosso”, com os hilários Simon Pegg e Nick Frost. Eles pegam todos os clichês do “Buddy Cop Movies” e tiram sarro dele, mas acabam por fazer o melhor “Buddy Cop Movie” de todos os tempos.
Falando de ação, se essa sua preferência, você pode optar por algo mais recente, sombrio e pesado como “Dredd” (pelo amor dos deuses, eu tô falando sobre o Karl Urban e não o do Stallone) que é uma reprodução impecável dos quadrinhos, ou “Mad Max – Estrada da Fúria”, que são duas horas incessantes do melhor que a ação tem para oferecer. Talvez você goste de algo mais velha guarda… Um faroeste, talvez? Eu recomendaria a lendária “Trilogia dos Dólares” (“A Fistful of Dollars”, “For a Few Dollars More” e “The Good, the Bad and the Ugly”) dirigido pelo mestre do faroeste, Sergio Leone, e estrelado por ninguém menos que Clint Eastwood. Talvez você queira e goste de ação, mas prefere algo com mais profundidade. Então, por que não os filmes de Akira Kurosawa? “Yojimbo”, “Sete Samurais”, “Rashomon” (tudo bem esses são muito mais dramas que filmes de ação, mas ainda assim acho válido pôr nessa categoria).
Já que falei de dramas, temos ambas as versões de “12 Homens & Uma Sentença” (1957 e 1997), um dos melhores (se não o melhor) “courtroom drama” e com atuações impecáveis (já que o filme tem que ser completamente sustentado nelas). Um pouco mais recente, mais ainda assim clássico, é “Um Sonho de Liberdade” (o qual creio que todo mundo conheça), que, mesmo sem o ótimo roteiro, ainda valeria a pena, pela narração do Morgan Freeman. Ainda mais recente (já entrando neste século), temos o drama histórico “O Discurso do Rei”, vencedor do Oscar de Melhor Ator, Melhor Roteiro, Melhor Diretor e Melhor Filme.
Se você quer algo para ver com as crianças (ou se é tipo que ama animações), temos “Asterix & A Poção Mágica” (e é bom ver Asterix de volta com qualidade nas telonas), que, curiosamente, foca muito mais no druida Panoramix que na dupla protagonista do quadrinho (Asterix e Obelix). Como sempre, a Pixar é uma opção, com obras de arte como “Procurando Nemo”, “Divertidamente” e “Coco” (ambos lindos, mas com momentos profundamente tristes). Mesmo a Disney propriamente dita nos fornece algumas opções (as exceções que confirmam a regra) no impagavelmente engraçado “A Nova Onda do Imperador” e no maravilhoso “Moana”; eu gosto de destacar esse último que subverte todos os elementos do típico “filme de princesa” e acabou por fazer um dos meus preferidos (se não o meu preferido) filme do estúdio.
E se você quer algo completamente novo, que você provavelmente nunca ouviu falar, vou me arriscar em indicar “Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos”. É um filme difícil de classificar, mas é uma experiência que beira a temática do teatro do absurdo e reconta a história de Hamlet, mas do ponto de vista dos personagens secundários da peça Rosencrantz & Guildenstern. Essa é, inclusive, uma ótima recomendação para os fãs de Gary Oldman (e um título menos conhecido na filmografia desse grande astro).
Quer ficção científica? “Perdido Em Marte” é excelente e “A Ira de Khan” é sempre uma opção (eu nunca vou perder a oportunidade de indicar “Ira de Khan”, mesmo porque, pra mim, esse é o ápice de Star Trek/ficção científica como um todo). Tem algo para todo mundo: Thriller? “Os Suspeitos”. Musical? “Magico de Oz”. Super-heróis? “Logan”. Sessão da Tarde? “Esqueceram de Mim” (ou “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, se o caso é mais Cinema em Casa que Sessão da Tarde). Como eu disse antes, é uma questão de encontrar o que te deixa mais feliz.
Por isso, não vou terminar esse pequeno texto te desejando um feliz Dia dos Namorados, mas sim desejando que você sempre tenha a oportunidade de escolher aquilo que te faz mais feliz (independentemente do que a sociedade dita que é o “certo”), seja o que for. Em suma, vou só desejar que (independentemente de Dia dos Namorados) você seja feliz.
(*) Nascido em Governador Valadares e atualmente residente em Belo Horizonte. Sua formação acadêmica se traduz numa ampla experiência no setor cultural. É escritor, crítico e comentarista cinematográfico e literário.
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal