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Desgastes emocionais em “fazer de conta” que está tudo bem no trabalho

Dileymárcio de carvalho (*)

Tem a rotina, tem o que foge da rotina, e ainda o que é de fato o seu trabalho. Aliás, o seu trabalho é qual mesmo? Não o local, mas o que você foi contratado para fazer? Experiências, boas e negativas definem os nossos enfrentamentos emocionais diários no trabalho.  E tem hora que não dá para usar a emoção da “simpatia” para contornar o que mexe com nosso organismo. E aí? Eu “faço de conta” que está tudo bem?

O centro de Pesquisa em Psicologia do Trabalho da Gallup, empresa Norte Americana de pesquisa de Opinião, fundada ainda em 1930, monitorou nos últimos cinco anos 2500 funcionários de 30 áreas distintas e quis saber como profissionais de 20 formações diferentes lidam com o ajuste emocional no trabalho.

Diante de um enfrentamento que foge ao nosso conforto psicológico, entramos em “trabalho emocional”: a força e capacidade que temos na adequação de nossas emoções para não mudar expressão facial e também os movimentos do corpo por comportamentos que não seriam nada adequados nos locais de atuação profissional.

Durante o período de identificação da pesquisa, os participantes respondiam a um questionário virtual, nomeando o sentimento e emoções que não puderam expressar no momento. O que suportavam para não deixarem de ter um comportamento apropriado no trabalho. Entre os sentimentos, a raiva, foi frequente como o primeiro sentimento nomeado, seguida da impaciência, constrangimento e rejeição.

Até aí, não é difícil nos projetar em situações em que tivemos que manter a mesma expressão de conforto, mas com tudo “virado” dentro da gente, só porque estávamos no local de trabalho. Mas, a pesquisa também monitorou, por meio de exames clínicos de sangue, os níveis de cortisol no grupo pesquisado, diante da repetição de outras situações que levaram aos mesmos sentimentos. Os profissionais tinham o sangue colhido na primeira hora do trabalho e depois quando passavam por uma situação em que era preciso ”manter a aparência”. Os resultados foram surpreendentes, o nível de cortisol em mais de 70% das pessoas subiu até três vezes em relação ao início do dia.

Em outra etapa da pesquisa, os profissionais foram incentivados manterem a reação do rosto e também corporal, respondendo aos seus “opositores” sem precisar “ fazer de conta”, mesmo diante dos mesmos sentimentos, como raiva. Os níveis de cortisol não tiveram aumentos significativos se comparados a primeira amostra do dia.

As consequências emocionais de uma rotina em que é preciso manter o “bom semblante”, mesmo diante de comportamentos estressores de outra pessoa, são negativas e levam em uma sequência de repetição, ao desânimo com o trabalho, ao sentimento de desvalorização e a uma tensão emocional frequente.  Os resultados, vão desde ao uso de medicamentos e também reforço de espectro do Burnoult, a maior síndrome de estresse provocada nos ambientes de trabalho.

Importante entender que a modulação emocional faz parte da rotina de uma pessoa no exercício profissional, mesmo para quem não lida diretamente com o público, mas também com os membros de uma equipe de trabalho.

A orientação psicológica aqui não é sobre o número e frequência em que acontecem essas situações estressoras, mas como o profissional organiza as suas emoções no dia a dia. A resposta está na qualidade e intensidade da força emocional que se coloca. E como dica, vale pensar se antes de “segurar” internamente uma emoção, do tanto que “fazer de conta que está tudo bem, você está gerenciando com eficiência as suas emoções.

Talvez você até tenha que “fazer cara boa”, mas não deixe que o cortisol suba. Esse é um comportamento emocional aprendido.


(*) Dileymárcio de carvalho
Psicólogo Clínico Comportamental – CRP 04-49821

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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