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Botafogo joga com um a menos, bate Atlético-MG e conquista a Libertadores

FOTO: Vitor Silva

MARCOS GUEDES

BUENOS AIRES (FOLHAPRESS) – A final da Copa Libertadores da América de 2024 começou com um jogador do Botafogo expulso por um chute na cabeça do adversário aos 30 segundos de partida. De algum jeito, o olhar soturno de cada alvinegro carioca se converteu na “euforia de uma tarde luminosa”, no sábado (30), em Buenos Aires.

A equipe de General Severiano derrotou o Atlético Mineiro por 3 a 1, no estádio Monumental de Núñez, e se tornou campeã da Copa Libertadores. Luiz Henrique, Alex Telles e Júnior Santos fizeram os gols que deram a ela um de seus maiores títulos, obtidos em uma convivência com o pessimismo que apenas o botafoguense parece capaz de estabelecer.

A própria frase “há coisas que só acontecem ao Botafogo”, repetida com frequência quando o time se vê como “um menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol”, é quase sempre evocada em momentos de dificuldade. Mas sua aparição mais célebre é em texto de Paulo Mendes Campos, de 1962, ano em que o time conquistou o Torneio Rio-São Paulo e o Campeonato Carioca.

“A mim e a êle soem acontecer sumidouros de depressão, dos quais irrompemos eventualmente para a euforia de uma tarde luminosa”, escreveu o cronista, na revista Manchete, sob o título “O Botafogo e Eu”. Ele se comparava à equipe na angústia -“faço gol contra, comprometo”, como Gregore- antes do júbilo pós-depressivo.

Assim também foi em 2024, o desgosto quase resignado convertido em êxtase. Na final continental em jogo único, na Argentina, a formação carioca sobrepujou a mineira apesar do cartão vermelho mostrado ao volante Gregore no primeiro minuto. Com um a menos, a formação do Rio marcou duas vezes no primeiro tempo. Sofreu no segundo, porém resistiu.

Para que o troféu fosse erguido pelo capitão Marlon Freitas, foi necessário ao Botafogo lidar, à sua maneira, com frustrações. O pessimismo alvinegro veio à tona na derrocada que custou o título do Campeonato Brasileiro de 2023 -com o desperdício de uma vantagem de 13 pontos sobre o Palmeiras, que acabou levantando a taça- e se manteve firme neste ano.

Houve ao menos duas ocasiões em que a repetição do roteiro se insinuou.

A primeira foi na agora conquistada Libertadores. Nas oitavas de final, no fim do jogo de volta, em vantagem aparentemente confortável de três gols sobre, de novo, o Palmeiras, o Botafogo levou um tento aos 41 minutos do segundo tempo, tomou outro aos 44 e viu uma cobrança de falta do rival explodir na trave, aos 55.

Já no Brasileiro, com vantagem de seis pontos -sobre, claro, o Palmeiras-, o time teve três tropeços em sequência e perdeu a primeira colocação na 35ª rodada. Então, em seguida, na casa do rival, fez 3 a 1 no breve líder e foi a Buenos Aires com o moral renovado para a decisão da Libertadores, contra o Atlético.

Aí, a dramaticidade atingiu níveis elevadíssimos. Gregore levantou o pé em disputa com Fausto Vera nos instantes iniciais, acertou sua cabeça e tornou a final um embate de 10 contra 11. O Atlético, tímido, não soube aproveitar a vantagem. E cometeu erros que permitiram ao adversário abrir boa frente no primeiro tempo.

Aos 35 minutos, Luiz Henrique tramou jogada com Almada e rolou para Marlon Freitas finalizar. Após dois desvios no caminho, a bola se ofereceu ao próprio Luiz Henrique, que abriu o placar. Também foi Luiz Henrique quem sofreu pênalti de Everson, após vacilo de Arana, assinalado com o auxílio do árbitro de vídeo. Alex Telles, aos 44, converteu.

Em desvantagem de dois gols, o Atlético partiu ao ataque após o intervalo, com as entradas dos atacantes Vargas e Bernard e do lateral ofensivo Mariano. Logo aos dois minutos, Vargas cabeceou livre, em escanteio, e deu vida à final. O próprio Vargas, porém, teve duas chances claras no finalzinho e finalizou mal. Era dia de outro time alvinegro, que ainda fechou o placar nos acréscimos, com Júnior Santos.

Pessimismos, poesias e crônicas alvinegras à parte, o triunfo do Botafogo tem obviamente muito a ver com o investimento feito no clube, cujo futebol foi comprado por um grupo de empresários em 2022. A caminhada da segunda divisão do Brasileiro, em 2021, ao topo do continente, em 2024, tem muito a ver com John Textor.

O milionário norte-americano se tornou o principal dirigente da agremiação no modelo SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a sigla usada na legislação brasileira para a instituição dos clubes-empresas. A equipe carioca passou a fazer a parte da Eagle Football Holdings, uma rede de times com orçamento basicamente compartilhado que inclui o Lyon, da França.

Textor se apaixonou pelo Rio de Janeiro. E deu de ombros no Brasil para os questionamentos em torno do chamado “fair play financeiro”, que tem lhe dado enorme dor de cabeça no Lyon. O futebol do Botafogo arrecadou em 2023 R$ 322 milhões, com uma operação que custou R$ 444 milhões. Em 2024, a Eagle prevê R$ 540 milhões em receitas com o clube carioca.

As linhas são turvas em uma “holding”. Tão turvas que Luiz Henrique e Thiago Almada, nomes importantíssimos do ataque preto e branco, chegaram ao clube certos de que se transfeririam em seguida para o Lyon -algo ainda quase certo para Almada, nem tão certo para Luiz Henrique, justamente por causa das questões jurídicas nas quais está envolvida a equipe francesa.

O preço declarado na chegada de Luiz Henrique foi 20 milhões de euros (R$ 106 milhões, na cotação da época). Almada, campeão pela Argentina na Copa do Mundo de 2022, chegou no meio do ano, por US$ 25 milhões (R$ 137 milhões, na cotação da época). Há uma série de questões sobre a sustentabilidade da operação, mas o torcedor alvinegro não está preocupado com isso hoje.

“O Botafogo é paixão, é Brasil, é confusão”, escreveu Paulo Mendes Campos, no célebre “O Botafogo e Eu”. “Perdido na dramaticidade poética dramaticidade do futebol”, seu menino hoje só quer saber dos números incluídos aqui: Atlético Mineiro 1 x 3 Botafogo.

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