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Uma Bike

Ainda não tenho uma “bike”, palavra que em  inglês significa bicicleta. Vou falar sobre esse veículo por algumas razões pessoais, e tudo começou quando passei a observar na cidade o aumento significativo do número de praticantes do ciclismo, conhecidos hoje como “bikers”. A cada dia é cada vez maior o número deles em seus veículos cada vez mais sofisticados. Além disso, vejo muitos profissionais liberais indo para o trabalho de bicicleta. Conheço um colega advogado que só vai trabalhar pedalando e fala muito no assunto. É bom lembrar que Governador Valadares, em função de sua topografia plana, sempre foi uma cidade de muitas bicicletas, e não por menos. Quando criança, meu saudoso pai me presenteou com uma Caloi vermelha, do tipo convencional.

Quando adolescente, pratiquei judô e natação, e ainda que tenha continuado a frequentar piscinas, nos últimos tempos confesso que reduzi um pouco a atividade. Apesar de ser um esporte prazeroso, completo, é muito solitário. Você nada e se envereda por seus pensamentos, conversa consigo e, quando vê, deu uma volta quase que completa pelo cérebro. Depois tem aqueles dias em que faz muito frio e não dá vontade de ir. Ainda que quebre a resistência, passo a maior parte de junho e julho sem nadar. Confesso que retorno, mas sempre adio um pouco. Aí penso na possibilidade da “bike”.

Como faço caminhadas no calçadão da Ilha, vejo grupos de “bikers” circulando pela orla numa velocidade incrível, não pelo lado condenável, ao contrário, é admirável como uma bicicleta pode desenvolver uma velocidade daquelas e ao mesmo tempo favorecer a saúde física e mental do praticante. Quando eles passam em determinados pontos, me fazem lembrar quem fui quando menino e quem sou, e isso me leva a sentir vontade de pedalar. Detalhe: a maioria dos “bikers” anda dentro das normas de trânsito, com bicicletas e capacetes sinalizados com luzinhas vermelhas que piscam de forma intermitente, além de usarem roupas adequadas.

Outro conhecido me fala de um parente que veio do exterior e trouxe para ele uma “bike” de ponta. Falou que ela tinha suspensão do tipo X, freio da marca Y e quadro Z. Em minha ignorância, nem sabia que bike tinha suspensão. A bicicleta que ele ganhou é uma “Scott”, mas não é só “Scott”, tem mais alguma coisa no nome, como se fosse um sobrenome, uma certa qualificação, sabe? O que lhe dá um certo ar de importância e qualidade. Como tive uma Caloi dessas comuns, pesquisei no Google e vi que a Scott é mesmo especial.

Numa outra oportunidade outro conhecido – quantas influências, hein? – encheu o peito e disse: “Estou pedalando uma Merida!”. Mas não era só “Merida”. Essa também tem algo de mais e de novo, uma qualificação extra, e são tantas que não me lembro de todas. Um dia perguntei a um vendedor, que também é ciclista, se havia grande diferença entre a Caloi, a “Scott” e a “Merida”, e ele disse que não, que hoje em dia as marcas nacionais evoluíram muito, e quem fala mal das “bikes” brasileiras é por desconhecimento ou preconceito.

Andar de bicicleta é sentir o vento no rosto, é ter a sensação de liberdade, e memória resgatada lá da infância. Observando a grande quantidade de capacetes coloridos, dá para perceber a grande quantidade de ciclistas circulando em bicicletas sofisticadas. Só notamos o que nos interessa, aquilo que é parte de nossas vidas. O fato de conhecermos algo novo ou retomarmos uma prática esquecida amplia a nossa visão e as nossas relações com o mundo. Já me disseram também que pedalar passa a sensação de que se vê a cidade pela primeira vez, muda-se o olhar, ela fica mais bela.

Já são muitos grupos em GV que se reúnem para percorrer certos trajetos nos entornos da cidade, e é quase certo que neles podem surgir novos amigos ou mesmo a possibilidade de reencontrar antigos conhecidos. Parece banal alguém comprar uma “bike” e começar a pedalar por aí, mas não é bem assim. Com o tempo, a vida nos coloca uma série de responsabilidades e comprometimentos, nos molda comportamentos e, quando nos damos conta, estamos indo da casa para o trabalho e do trabalho para casa, desempenhando papéis que não escolhemos, foram se achegando e tomaram conta de nossas vidas. É como andar numa “bike”, é simples e natural.

Por Crisolino Filhocrisffiadv@gmail.com /Celular: 9.88071877. Membro da Academia Valadarense de Letras – AVL.

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