Se eu protegesse ministro do Turismo, teria feito um ‘péssimo trabalho’, diz Moro

FOTO: Divulgação

O ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou nesta terça-feira (2) que estaria fazendo um “péssimo trabalho” se seu objetivo fosse proteger o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que teve três assessores presos, acusados de participação em esquema de candidaturas de laranjas do PSL.

Moro participou de audiência pública na Câmara em sessão conjunta das comissões de Constituição e Justiça, de Trabalho e de Direitos Humanos. Segundo o ministro, antes de aceitar o cargo ele perguntou ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) qual seria a postura se surgissem casos em que membros da nova administração fossem investigados.

Bolsonaro, afirmou Moro, deu total carta branca para investigar “quem quer que seja”.

“E é isso que vem sendo feito”, afirmou Moro. “Eu diria que se o ministro da Justiça está protegendo alguém está fazendo um péssimo trabalho, porque o que foi dado à Polícia Federal é autonomia e independência e está se dando estrutura para realizar bem o seu trabalho.”

Mais cedo nesta terça, ao comentar o caso, Bolsonaro disse que falta uma acusação “com substância”. “Por enquanto, tenho 22 ministros, sem problema. Tem de ter acusação grave, acusação com substância. Por enquanto, não tem nada contra ele [Álvaro Antônio]. Se o assessor falar e for confirmado que ele tem participação, aí a gente toma providência.”

Nesta segunda (1º), foram indiciados o assessor especial e braço direito de Álvaro Antônio, Mateus Von Rondon, e os ex-assessores Roberto Soares e Haissander de Paula por suspeita dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.

A suspeita da Polícia Federal é a de que candidaturas e o serviço eleitoral declarado por quatro candidatas não tenham passado de simulação, com o intuito de desviar dinheiro público destinado ao PSL.

Apesar do indiciamento, a PF ainda não concluiu as investigações, que prosseguem. Futuramente, caberá ao Ministério Público analisar o material e decidir se oferece denúncia à Justiça.

Na semana passada, Bolsonaro afirmou que determinou a Moro que investigue as candidaturas laranjas em outros partidos.

Como mostraram as reportagens da Folha de S.Paulo, na eleição do ano passado Álvaro Antônio, reeleito como deputado federal mais votado em Minas, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada no estado que direcionou verbas públicas de campanha para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.

Após indicação do PSL de Minas, presidido à época pelo próprio Álvaro Antônio, o comando nacional do partido de Bolsonaro repassou R$ 279 mil a quatro candidatas. O valor representa o percentual mínimo exigido pela Justiça Eleitoral (30%) para destinação do fundo eleitoral a mulheres candidatas.

Apesar de figurar entre os 20 candidatos do PSL no país que mais receberam dinheiro público, essas quatro mulheres tiveram desempenho insignificante.

Juntas, receberam pouco mais de 2.000 votos, em um indicativo de candidaturas de fachada, em que há simulação de alguns atos reais de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.

Dos R$ 279 mil repassados pelo PSL, ao menos R$ 85 mil foram parar oficialmente na conta de quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje ministro de Bolsonaro.

A polícia também investiga esquema de laranjas no PSL de Pernambuco, estado do presidente nacional da sigla, o deputado federal Luciano Bivar. A Folha de S.Paulo mostrou em fevereiro que candidatos com votações pífias receberam ao menos R$ 15 milhões em dinheiro público dos fundos partidário e eleitoral.

por DANIELLE BRANT E THAIS ARBEX FOLHAPRESS

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