Prisão de assessores de ministro cria abalos, afirma líder do PSL no Senado

FOTO: Divulgação

A prisão de assessores do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) em ação da Polícia Federal que mira as candidaturas de laranjas do PSL reveladas pela Folha de S.Paulo traz abalos ao governo, segundo admitiram aliados nesta quinta-feira (27).

A oposição no Congresso, por sua vez, vê uma tentativa de blindagem do ministro para não afetar a reforma da Previdência e prepara requerimento para convocá-lo a prestar esclarecimentos.

“Está se avançando nas investigações. Logicamente, a situação cria abalos para todos nós. Mas que se apure e se responsabilize quem tem que ser responsabilizado”, disse o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP).

A Polícia Federal prendeu na manhã de ontem, em Brasília e em Minas Gerais um assessor especial e dois ex-assessores de Álvaro Antônio em razão de investigação sobre candidaturas de laranjas do PSL na eleição de 2018.

A ação da PF é decorrência da apuração sobre caso revelado pela Folha de S.Paulo, em fevereiro. Os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão foram autorizados pela Justiça de Minas Gerais. Foram apreendidos computadores e telefones celulares.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem dito que a situação do ministro do Turismo causa desgaste para o governo e que esperaria a conclusão da apuração da PF para decidir o destino de Álvaro Antônio.

“O fato de ser alguém com relação próxima ao ministro não implica diretamente um pressuposto de que haja responsabilidade direta dele”, argumentou Olímpio.

A oposição diz entender que o governo tenta poupar Álvaro Antônio, por enquanto, para não prejudicar a tramitação da reforma da Previdência. Uma eventual prisão do ministro precisaria ser aprovada na Câmara, o que tumultuaria ainda mais o ambiente.

O líder da Minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que vai apresentar requerimento para convocar o ministro na CTFC (comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor).

“Os que foram presos têm que falar. Esperamos que possam confirmar ou negar que este fato aconteceu para que não paire dúvida sobre a conduta do ministro”, disse o deputado Julilo Delgado (PSB-MG).

O caso das laranjas do PSL, partido de Bolsonaro, é alvo de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público em Minas e em Pernambuco e levou à queda do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que comandou o partido nacionalmente em 2018.

No início da manhã desta quinta-feira, em Brasília, policiais federais prenderam Mateus Von Rondon Martins. Ele é assessor especial no Ministério do Turismo, um dos mais próximos aliados de Álvaro Antonio. É seu braço-direito na pasta do governo de Jair Bolsonaro.

Também foram presos Roberto Silva Soares, conhecido como Robertinho Soares, e Haissander Souza de Paula. Os dois atuaram na campanha eleitoral que elegeu Álvaro Antonio deputado federal.

Robertinho foi o coordenador da campanha no Vale do Aço, em Minas, e figurou como assessor de seu gabinete na Câmara dos Deputados de 2015 a 2018. Já Haissander também foi assessor do gabinete do hoje ministro do Turismo, de 2017 e 2019.

Em nota, o Ministério do Turismo afirmou não haver relação entre as investigações e as atividades de Von Rondon na pasta.

“É importante esclarecer que não há qualquer relação entre a investigação da Polícia Federal e as funções desempenhadas pelo assessor especial Mateus Von Rondon no Ministério do Turismo.”

Como mostraram as reportagens da Folha de S.Paulo, na eleição do ano passado, Álvaro Antônio, reeleito sendo o deputado federal mais votado em Minas, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada no estado que direcionou verbas públicas de campanha para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.

Após indicação do PSL de Minas, presidido à época pelo próprio Álvaro Antônio, o comando nacional do partido de Bolsonaro repassou R$ 279 mil a quatro candidatas. O valor representa o percentual mínimo exigido pela Justiça Eleitoral (30%) para destinação do fundo eleitoral a mulheres candidatas.

Apesar de figurar entre os 20 candidatos do PSL no país que mais receberam dinheiro público, essas quatro mulheres tiveram desempenho insignificante. Juntas, receberam pouco mais de 2.000 votos, em um indicativo de candidaturas de fachada, em que há simulação de alguns atos reais de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.

Dos R$ 279 mil repassados pelo PSL, ao menos R$ 85 mil foram parar oficialmente na conta de quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje ministro de Bolsonaro.

A Polícia Federal vê elementos de participação de Álvaro Antônio na fraude e apreendeu documentos em endereços ligados ao PSL-MG. Segundo os investigadores, foram encontrados indícios concretos de que houve irregularidade na prestação de contas das campanhas.

Esta é a segunda operação da PF relacionada ao caso.

A primeira, batizada de Sufrágio Ostentação, ocorreu em abril e teve como alvo empresas contratadas pelas candidatas suspeitas, principalmente gráficas.

Uma empresa ligada a Von Rondon é investigada como o principal elo entre o ministro e o esquema de candidaturas de laranjas do PSL no estado.

Aberta em 2013, uma empresa de serviços de internet e marketing direto teve Álvaro Antônio como principal cliente até 2018 por meio de verba da Câmara dos Deputados.

Mateus Von Rondon, dono da empresa, virou assessor especial do ministro do Turismo em 23 de janeiro de 2019, dois dias depois de ter encerrado as atividades do negócio na Receita Federal.

A mesma empresa aparece na prestação eleitoral de contas de quatro candidatas a deputada estadual e federal usadas como laranjas pelo PSL de Minas, partido comandado à época por Marcelo Álvaro Antônio, então deputado e candidato à reeleição.

Desde o começo das revelações sobre o caso, o ministro tem negado irregularidades.

por DANIEL CARVALHO FOLHAPRESS

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