[the_ad id="288653"]

Partiu Serafim Roque “Leiteiro” Pereira

Luiz Alves Lopes (*)

O limiar da segunda semana de janeiro, deste ano, foi marcado pelo falecimento de uma pessoa que integrou, definitivamente, a história do futebol amador de Governador Valadares. Refiro-me a Serafim Roque Pereira – o Serafim “Leiteiro”. O valadarense da velha guarda, de algumas décadas passadas, bem se lembra, do mulato risonho, tranquilo e despachado, que, de porta em porta, fazia chegar aos lares dos habitantes da “Princesa do Vale”, o leite distribuído ou destinado ao consumidor, pela cooperativa do leite, certamente, o excesso do recebido de seus cooperados/fornecedores.

Para tanto, nosso SERAFIM LEITEIRO fazia uso de uma simplória carroça, puxada por animal, chapéu nordestino à cabeça, e a inseparável buzina. Com  o passar do tempo, a carroça foi substituída por uma Kombi e, posteriormente, por veículo mais avançado. Foram décadas e décadas no exercício da nobre profissão. O fazia com galhardia e paciência de Jó. A todos conquistava, não importando se adultos, jovens, adolescentes ou crianças. A posição social não impunha tratamento diferenciado. Aos “deserdados”, o carinho e gratidão.

Aposentado, recolheu-se ao seu ninho, no bairro São Cristóvão, vivendo com os “seus”. Nos últimos anos, teve a saúde abalada e fragilizada, quase sempre acamado. Com pouco mais de “80”, foi recolhido pelos ANJOS do Criador do Universo.

De SERAFIM “LEITEIRO” muito se pode dizer, escrever, testemunhar, e registrar. Segundo Paulinho “Catuaba”, Hoberg “Batata” Leocádio e Alphiniano “TIM”, 51 é uma BOA IDEIA, e os 51 anos do Coopevale Futebol Clube, a serem completados neste ano, serão registrados em livro, contando a história do clube leiteiro, do qual figurou como um dos mais importantes fundadores.

Inesquecíveis “as noitadas” e “madrugadas” de Serafim e sua trupe, no plenário e gabinetes da Câmara Municipal de Governador Valadares, diligenciando, discutindo, argumentando e pressionando, para que houvesse autorização legislativa, que contemplasse doação pelo Município de área “alagada”, cheia de “taboas”, e de pouco valor, no bairro São Paulo, objetivando a construção de um campo de futebol, para o COOPEVALE.

A doação ocorreu. Serafim e tantos outros notáveis e não notáveis (não se pode esquecer a figura de LOTINHA, no Conselho da Cooperativa), passaram a nova frente de batalha: convencer a Cooperativa do Leite a aplicar parte de recursos de determinado FUNDO (FATES), na construção do estádio, que hoje embeleza a Placedina Cabral. Obra cara. Bem projetada. Construída com muita seriedade e profissionalismo. Restaram lembranças de duas quadras, ou quarteirões alagados, cheias de taboas, nas proximidades do Parque da União Ruralista de Governador Valadares ( EXPOSIÇÃO). O COOPEVALE, hoje, é uma realidade. Clube sólido. Com uma política bem definida, voltada para a massificação esportiva. Para tudo isto, colaborou e participou, incansavelmente, Serafim “ Leiteiro”.

São passadas quase 4 (quatro) décadas, que o clube leiteiro implantou interessante projeto, que se constitui da “escolinha de futebol do Coopevale”. Projeto simples, repassado pelo senhor ZITO, pai de Telê Santana, e que havia implementado projeto idêntico, no América Mineiro (quando o América detinha a Alameda). Independentemente da paternidade, inquestionável o envolvimento de Serafim “Leiteiro”, no dia a dia da escolinha. Supria todas as necessidades. Criança sem recursos paternos não ficava “de fora”. Serafim sempre dava jeito (custeando). De poucas palavras, porém, astuto observador, Serafim “Leiteiro” viveu momentos de glórias e de tristezas, no “Coopevale”. Glória, orgulho e satisfação, pela transformação ocorrida no clube, transformado em um grande “vencedor” (usava muito a expressão papão de títulos) e clube bem organizado e  equilibrado.

Momentos de tristeza houve quando “a Nau tomou destino diverso do pretendido, desgovernando-se. Nítida era a tristeza estampada em seu rosto. Acabou por recolher-se, silenciosa e respeitosamente. Fez e conquistou amizades. Perguntem, especialmente, aos extraordinários ex-atletas, que com ele conviveram por algumas décadas, dando-lhes uma “enxurrada” de títulos. Serafim foi feliz. Partiu em paz. Combateu o bom combate. Ficou um belo exemplo a ser seguido.

O futebol amador de Governador Valadares está de luto. Deixou-nos Serafim Roque Pereira – o “SERAFIM LEITEIRO”. Descanse em paz, grande homem!

“Há homens que não morrem, apenas se calam; apenas se despedem. Viajam apenas, porque serão sempre encontrados nas coisas mais sublimes; estarão sempre presentes e vivos toda vez que alguém falar de amor, de humanidade, de compreensão, de fraternidade, de abnegação, de paz e liberdade”.

(Moisés Esper).

(*) Ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

A era das contradições

🔊 Clique e ouça a notícia Wanderson R. Monteiro (*) Estamos vivendo em tempos difíceis, onde tudo parece mudar de uma hora para outra, nos tirando o chão e a

O antigo futebol de 11 contra 11

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) No futebol do passado, que encantava, situações delicadas e pitorescas ocorriam, algumas, inclusive, não republicanas, próprias do mundo dos humanos