Não haverá mais tempo algum

Queridos irmãos e irmãs, o nosso caminhar e o nosso existir aqui na terra ganham um destaque e um sentido especial quando esse caminhar e existir nos fazem pensar na Nova Jerusalém, que não há tempo, porque o Senhor e o Cordeiro são o seu templo. Uma afirmação que nos faz entender o amor misterioso de Deus, que nos é oferecido como processo, na caminhada em meio às realidades e circunstâncias da vida. Pois “o mundo novo” para o qual caminhamos já é uma realidade presente, como início na Igreja terrena da qual fazemos parte, e somos esse povo a caminhar, mas que se realizará em plenitude da Graça de Deus na Igreja Celeste.

A realidade futura para a qual caminhamos não terá mais necessidade do que na terra é sinal e instrumento. Mas, com consciência da caminhada neste mundo, é preciso fazer a passagem dos sinais visíveis para os invisíveis mistérios que naqueles Deus faz conhecer e comunicar. Isso implica uma caminhada, um processo de profunda espiritualidade e de personalização que ultrapassa as perspectivas dos profetas, e profetizarão que vieram antes de Jesus.

Na caminhada do povo de Israel, o tempo de Jerusalém já era necessário e relativo. Sinal tangível da presença de Deus no meio de seu povo, constitui um ponto de referência importante para a unidade, mas corria o risco de dar uma falsa segurança, de “tipo pagão”, sendo baseada em um culto formalista em que não existia fidelidade interior ao Deus da Aliança, como processo e caminhada.

Com a intervenção de Deus que se fez homem acontece uma mudança radical, agora não mais um templo de pedra, areia e tijolos, mas um templo de carne e de espírito. Só ele é capaz de um culto verdadeiro, agradável a Deus, o da obediência espiritual que vai até a morte de Cruz: “Em tuas mãos entrego o meu espírito”. Na paixão, seu corpo se torna o templo em que se oferece o único sacrifício digno deste nome, a única realidade visível e sagrada. “Do novo culto em espírito e verdade”, Cristo é a vítima e o sacerdote.

Queridos irmãos e irmãs, em celebração eucarística hoje, no mundo inteiro, o sacrifício da nova aliança se celebra na Igreja, corpo de Cristo; um culto espiritual pelo qual cada um apresenta a si mesmo em união com Cristo no Espírito, como hóstia viva e santa, e o povo sacerdotal reunido em assembleia é o único templo visível. As igrejas em que o povo de Deus se reúne para celebrar e rezar são, mais ainda do que do antigo templo de Jerusalém, relativas à sua função de espaço para a comunidade. Por muitas vezes, há dificuldades em pensar em uma construção e utilização, porque a comunidade e uma grande maioria dos cristãos ainda não encontrou sua fisionomia própria no mundo de hoje. Sendo assim, compreende-se que a realidade definitiva é a comunhão; ela já existe, segundo a palavra de Jesus, toda vez que aquele que tem fé e a assembleia dos que caem fiéis em sua Palavra ao mandamento único do Amor com todas as suas forças, uma vez que na fraternidade em ato está o sinal da comunhão definitiva sem nenhuma mediação e simbolismo.

Podemos buscar entender que Cristo é a chave desta comunhão, anunciada pelos profetas e realizada na plenitude da graça e amor de Deus. Pois o mistério de Cristo é mistério de comunhão. O desígnio de Deus é estabelecer a paz em Jesus Cristo; levar, em Jesus Cristo, todos os homens ao diálogo e à comunhão com Ele; realizar entre os homens antes divididos pelo pecado uma comunhão fraterna, reunindo-os no corpo místico do Seu Filho.

Não só nos tempos passados, mas no nosso tempo, os homens sentem profundamente a exigência de diálogo de comunhão e de paz. Sentimos todos essa exigência profunda de sair dos discursos estéreis, de sanar as antigas fraturas que dividem a humanidade, de entrar em comunhão, superando todas as barreiras de cor, raça e ideologia. O cristão é chamado a transcender, assim como o cristianismo transcende o tempo na medida em que ajuda a promover esses valores, demolindo todos os obstáculos que dividem todas as absurdas separações que criaram e continuam a criar no decorrer da história.

Peçamos a Deus que Ele nos conduza para entender a caminhada como um percurso da vida, fazendo-nos instrumentos em suas mãos.

Um fraterno abraço. | Pe. Gilberto Faustino Braz

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