A hora do ginecologista

FOTO:Divulgação

Caro leitor, vou lhe contar uma história:

Elsa, quando tinha 12 anos, menstruou… Então sua mãe a levou ao ginecologista que a acompanhava havia anos… A menina ficou muito envergonhada e o profissional, infelizmente, não teve muito tato. Preocupou-se mais em conversar com sua antiga paciente e praticamente não se dirigiu à pequena Elsa. Na hora do exame, mãe e ginecologista não se preocuparam em perguntar se a menina queria ser examinada. Elsa conta que “foi tudo constrangedor e eu só voltei a um ginecologista quando engravidei, aos 25 anos”. Isso aconteceu com uma colega pediatra, que sempre conta esse episódio quando as mães perguntam se está na hora de levar a filha ao ginecologista.

Felizmente, histórias como essa são exceções hoje em dia. Mas existe um senso comum que diz que a menarca (primeira menstruação) marca o momento de levar a filha ao ginecologista. Quando me fazem essa pergunta, eu não costumo responder rapidamente… Prefiro recorrer ao maroto “Depende”.

Respondo assim porque realmente é relativo. E explico:

Se a menina tem um pediatra capaz de orientar sobre vida reprodutiva, sexualidade, vacinas, prevenção de ISTs/AIDS e gravidez, cuidados de higiene e ciclo menstrual, ELA NÃO PRECISA IR AO GINECOLOGISTA SÓ PORQUE MENSTRUOU. Logicamente que esse profissional, tenha a especialidade que tiver, deve TER A CONFIANÇA DA ADOLESCENTE! Outra coisa, raramente elas querem ir ao ginecologista da mãe, e a maioria prefere ginecologistas mulheres…

Se você mora numa cidade pequena, que não tem um médico capaz de orientá-la nesses assuntos, pode marcar com um ginecologista que faça esse papel.

Mas, caro leitor, esse é o papel do HEBIATRA.

Muito antes de a menina menstruar, nós, hebiatras, orientamos sobre o desenvolvimento de mamas e pelos (que antecipam a primeira menstruação), vacinas e abuso.

Se você pensar bem, caro leitor, falar sobre sexo é uma tarefa da família – que costuma “terceirizar” para a escola e para os serviços de saúde.

Vamos esclarecer: menstruar não quer dizer iniciar a vida sexual, muito pelo contrário. Menstruar também não é indicação de exame preventivo. Então, o papel do ginecologista será o de orientação e prevenção, que pode ser feito por outros profissionais (pediatras, hebiatras), desde que esses sejam habilitados e dispostos a fazê-lo.

Procure seu pediatra. Se ele não se sentir à vontade, ele mesmo vai indicar um médico de adolescentes. É importantíssimo ver a caderneta de vacinas (hepatite B e HPV são ISTs, lembra-se?). É fundamental analisar se ela tem corrimento; se o ciclo menstrual está ou não regular; se o fluxo está normal e se a adolescente tem cólica; vigiar peso, IMC e hábitos alimentares; se a menina está se exercitando… Enfim, enxergar a menina como um todo e não só seu aparelho reprodutor. É fundamental conversar com as meninas que já namoram sobre relações abusivas. Ensinar que quem ama cuida, respeita e dialoga. Enfim, numa sociedade machista e patriarcal, orientar meninas sobre saúde passa por muitos assuntos e o profissional tem que estar disposto a conversar. Porém, se a paciente apresentar sintomas ginecológicos que o hebiatra não esteja seguro de acompanhar, ele será o primeiro a indicar um ginecologista que tenha habilidade no trato com adolescentes.

É dispensável dizer que as orientações feitas à paciente serão sem a presença dos pais, pois o adolescente tem direito a privacidade.

Em resumo: sua filha ir ou não ao ginecologista vai depender de seu pediatra ficar à vontade ou não para orientá-la nessas importantes questões e da disponibilidade de um hebiatra na sua região. Atenção, se sua filha precisar ir a um ginecologista, ela vai se lembrar dos comentários que você faz sobre a consulta ginecológica. Portanto, não reforce medos e preconceitos, você vai atrapalhar sua menina.

Essa coluna é quinzenal. Se desejar sugerir assuntos ou tirar dúvidas, utilize o e-mail adolescenteconfidente@gmail.com.

Coluna Adolescer Bem | Autor: Darlan Corrêa Dias

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